10/03/2025
Tarifas do EUA sobre Aço e Alumínio Brasileiros – Impactos e Oportunidades para o Brasil
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas extras de 25% sobre as importações de aço e alumínio. Embora ainda não tenhamos detalhes sobre a aplicação efetiva e abrangência dessas tarifas — se serão globais ou específicas para determinados produtos, é importante considerar as implicações dessa medida para o mercado brasileiro e para as empresas dos setores.
Atualmente, os cinco maiores fornecedores de aço para o mercado americano são o Canadá, o Brasil, o México, a Coreia do Sul e a Alemanha. Embora a China represente cerca de 54% da produção mundial de aço, não é um grande exportador para os EUA, uma vez que as tarifas sobre produtos siderúrgicos e de alumínio chineses já ultrapassam 25% desde o ano passado. O principal desafio trazido pela superprodução de aço chinês é que muitos produtos fabricados no México e no Canadá utilizam aço chinês como matéria-prima, resultando em preços extremamente competitivos para produtos como veículos e eletrodomésticos. Essa situação tem gerado insatisfação entre trabalhadores nos Estados Unidos, que enfrentam concorrência desleal.
As tarifas propostas por Trump visam aumentar a arrecadação de impostos e estimular a produção nacional, reduzindo a dependência de aço e alumínio[1] importados. Esse movimento também busca reverter parte do processo de globalização que beneficiou, em grande parte, países emergentes, especialmente a China. As proteções comerciais, impostas, desde o primeiro mandato do governo Trump, elevaram a capacidade produtiva da indústria siderúrgica dos EUA em cerca de 20% nos últimos seis anos, impulsionada pelas tarifas sobre o aço, embora ainda exista uma capacidade ociosa de cerca de 25% no setor.
Para o Brasil, que é o segundo maior exportador de aço para os EUA, a situação é delicada. Empresas como CBA, Usiminas e CSN podem enfrentar dificuldades caso as tarifas sejam realmente impostas. No entanto, a Gerdau, que tem cerca de 50% de suas operações voltadas para o mercado norte-americano, sendo parte fabricada nos EUA, pode se beneficiar desse movimento protecionista. A redução da competição de produtos importados poderá favorecer a maior parte da receita da Gerdau, que também fabrica nos EUA.
Segundo relatório divulgado no dia 27 de janeiro de 2025 pelo American Iron and Steel Institute (Instituto Americano de Ferro e Aço), o Brasil exportou 4,49 milhões de toneladas líquidas de aço em 2024, o que representou um avanço de 14,1% em relação a 2023, quando foram exportados 3,94 milhões. Relatório completo disponível em https://www.steel.org/wp-content/uploads/2025/01/IMP2412.pdf.
Embora a participação do Brasil nas importações americanas de produtos de alumínio seja relativamente pequena, menos de 1%, as exportações brasileiras do metal para os Estados Unidos corresponderam a 16,8% das exportações brasileiras do metal, movimentando US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024. Vide nota de Posicionamento da ABAL disponível em https://abal.org.br/noticia/posicionamento-novas-tarifas-dos-eua-sobre-o-aluminio-brasileiro/.
Os EUA são um dos maiores importadores de alumínio do mundo e o Brasil é um dos principais fornecedores. Isso mostra a importância do Brasil na cadeia de suprimentos de alumínio dos EUA.
Ainda não temos a reação oficial do governo brasileiro a essa situação, que pode criar barreiras para importações iniciadas nos EUA, abrangendo eventualmente outros setores, como tecnologia. Além disso, é importante aguardar as medidas oficiais do governo Trump, que tem mudado o tom a cada semana e, como Japão e União Europeia se posicionarão diante dessa nova dinâmica comercial.
Concluindo, embora seja cedo para ter uma visão clara dos efeitos sobre nossas exportações, a iminente guerra comercial não é favorável para o Brasil e para o mundo. As próximas semanas serão cruciais para entender as repercussões dessa decisão e como as empresas brasileiras se adaptarão a esse novo cenário.
Haroldo R. Levy Neto
Diretor Técnico
Álvaro Bandeira
Coordenador Macro da Comissão de Economia
Flávio Conde
Coordenador Setorial da Comissão de Economia
S.Paulo, 10/03/2025